Crônicas de viagem – viagem ostentação

Que viajar é uma delícia todos nós já sabemos. Sabemos também que nos deixar levar por descobrir novos caminhos, novos lugares, culturas, sabores e sensações são agradáveis surpresas que toda viagem pode nos trazer, mas hoje em dia tenho reparado que alguns, eu diria que muitos até, viajam com uma vibe meio conturbada do real sentido de viajar. Irei explicar, mas tenha a mente aberta para se ‘encaixar’ em alguma situação, afinal ninguém é tão perfeito que nunca tenha feito nada do que irei abordar.

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A tecnologia evolui a cada dia com uma velocidade absurda se compararmos a décadas passadas e de um mês para o outro novas manias estão na moda, novas expressões, novas ‘modinhas’ são lançadas. Não sou tão velha assim, mas na época que comecei a viajar por conta de meu trabalho em meados da década de 90 tudo era muito diferente. Não nos preocupávamos tanto com as fotografias, marcações, planejamento excessivo, registro em tempo real (alias, nem tínhamos isso). O máximo que fazíamos era contar para os amigos mais próximos o que iríamos fazer e na volta algumas poucas fotografias, muitas borradas, resumiam a nossa aventura de férias. Eram outros tempos, claro. Me lembro bem que tinha uma vergonha gigantesca, como ainda tenho hoje, de pedir para alguém estranho tirar uma foto minha em determinado ponto turístico. Quando revelava a foto e via que eu havia ficado borrada me batia uma sensação de alívio por pelo menos a imagem do ponto turístico estar boa e eu poder relembrar esses momentos. Tudo muito diferente de hoje, onde algumas pessoas chegam ao ponto de ficar dando zoom para ver se a perfeição se faz presente naquela foto. “Peraí gente”… a perfeição é você estar ali, naquele momento, com aquelas pessoas, naquele dia. Isso não volta nunca mais.

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Por conta do meu trabalho, tenho várias obrigações em algumas viagens. Coisas do tipo ‘trabalhar’ redes sociais e caprichar em fotografias são meio que exigências, podemos dizer assim, nesse trabalho. Afinal, estamos ali para mostrar o quanto determinado lugar é lindo e que você deve investir sim em viajar para lá. Mas pera lá, esse é meu trabalho, você tem que ir e curtir. Pronto. Só que no meu mundo de Poliana seria assim, mas na realidade não é. As pessoas a cada dia mais estão desaprendendo a ser feliz nos menores e mais simples momentos de tudo, inclusive de suas viagens.

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Me deparo com um número incontável de pessoas se acotovelando por um ângulo perfeito para aquela selfie fantástica. Para ela guardar como lembrança, para dividir com seus amigos na volta da viagem, para mostrar para a família? Não, mais uma bola fora do meu mundo de Poliana. Para postar nas redes sociais e matar fulaninho de inveja e mostrar o quanto é feliz e o quanto pode ser melhor que o outro. Realidade de um mundo conturbado que a cada dia cresce mais.

Tenho um hábito em minhas viagens que é, sempre que possível, me sentar em um lugar muito turístico para observar as pessoas por algum tempo, posso até ficar horas fazendo isso, tamanha é minha curiosidade pelo ser humano. E como carrego comigo sempre meu caderninho na bolsa (sim, de papel) eu costumo fazer anotações características de cada lugar. Ultimamente tenho me repetido com intensidade nessa questão da ‘viagem ostentação’ que muitas pessoas se preocupam em fazer.

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Não vou ficar aqui dando conselhos ou puxando orelhas, mas ao menos que este seja seu trabalho, se preocupe menos com o facebook, instagram, foursquare entre outras redes sociais. Esqueça um pouco as selfies excessivas, principalmente aquelas que tem que ter uma perfeição de elementos compondo o cenário. Não permita que seu jantar esfrie por você não estar conseguindo um bom sinal para subir a foto imediatamente para que todos vejam o que você está comendo naquele momento. E o mais importante: não fique se preocupando se o fulaninho está vendo sua viagem e morrendo de inveja, isso é no mínimo uma grande idiotice, afinal, quem pagou e está deixando de aproveitar 100% de tudo que poderia é você. Então, me diz aqui, que é o tolo mesmo?

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