Gastronomia etc.

As meia-porções que não existem

Quase 10 anos atrás eu me submeti a uma cirurgia bariátrica, com isso meu estômago é metade do que era. Mas a minha paixão por comida só aumentou, hoje eu como com qualidade, aprecio cada mordida e penso na comida de outra forma.

Gosto de ir a um restaurante e provar várias coisas, no mínimo uma entrada e um prato principal. Mas pergunta se meu estômago aguenta…claro que não.

Mas não é só nos jantares e almoços longos que não consigo terminar meus pratos, almoços do dia a dia no Centro do Rio também são fartos e eu vivia deixando metade ou mais. Até o dia que resolvi começar a pedir pela “meia-porção”.

Vou pular a parte da cara estranha de todos os atendentes (tipo: a “mulé” é louca?). Em 98% das vezes vem o diálogo:

“-Não trabalhamos com meia-porção Sra.”.

– Beleza, eu pago o preço cheio. Mas você pode pedir ao chef/cozinheiro para colocar A METADE no meu prato? (Volta a cara de quem está vendo um ET)

– Nós não trabalhamos com meia-porção.

– Ok, eu entendi isso, mas coloca menos. Não como quase nada e não suporto jogar comida fora.

– Ok.

E vão se afastando da mesa com a mesma cara, de quem viu um E.T.

Chegando o prato à mesa (eu sempre me iludo) a porção é a mesma, no final volta meio prato pra cozinha e ainda vem me perguntar se a comida estava ruim.

Barriga de porco, batata doce e redução de água de beterraba - Chef Adriano Vilhena

Vamos lá, se eu peço um prato que é uma coxa de pato eu não vou pedir meia-porção pois não quero uma coxa cortada ao meio. Mas um arroz? Uma massa? Faz na hora? Não tem problema nenhum, cozinha menos!

Até outro dia o único lado que eu enxergava era o meu, até que comecei a tentar entender as caras de quem conversava com um E.T. quando contava minha situação para uma pessoa que se espantou muito ao ouvir que eu pagaria 100% para vir a metade. O indivíduo ainda me responde afirmando categoricamente que eu deveria pagar 50%, afinal era metade do prato.

Foi então que eu percebi que, como diz o dito popular, “o buraco é muito mais embaixo”. É tudo uma questão de educação, aquela que vem de casa, de índole e de bom-senso.

Jogar comida fora é doído, é feio, é desnecessário. Seria se ninguém passasse fome no mundo, segundo a FAU – Organização de Agricultura e Comida para a ONU (sigla em inglês) em pesquisa liberada no final de 2014 aproximadamente 805 milhões de pessoas sofrem de fome crônica no mundo. Isso quer dizer 1 entre 9 pessoas.

Organização de Agricultura e Comida para a ONU

Razão número dois, se você está em um restaurante e pede meia porção você irá (teoricamente) receber metade do prato. Entretanto o serviço prestado – do início ao fim – será o mesmo, por isso os poucos estabelecimentos que permitem a meia-porção cobram 70% do preço. Mais do que justo.

Lamento mesmo é por essa cultura não ter espaço no Rio, em São Paulo a maioria dos locais você consegue pedir um prato reduzido. Gasta-se menos, não desperdiça comida e todos voltam pra casa felizes.

Enquanto isso não acontece na Cidade Maravilhosa vou me contentando com os lugares que tenho amigos me servindo e minhas idas à São Paulo.

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